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2 de novembro de 2020
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Memória dos Falecidos – Sábado de todas as almas

Memória dos Falecidos na Igreja Greco Católica Ucraniana

 

“Cristo, dai aos vossos servos o descanso eterno no convívio com os santos, onde não existe dor, nem aflição, nem sofrimento algum, mas somente vida eterna.”
(Contáquio pelos Falecidos)

 

A união dos fiéis na terra, dos bem-aventurados nos céus e das almas padecentes no purgatório, nós chamamos de Comunhão dos Santos. Este dogma ensina que os bem-aventurados nos céus podem e ajudam aqueles que estão na terra e no purgatório intercedendo por eles diante de Deus, enquanto aqueles que estão no purgatório podem rezar por nós, mas não podem ajudar a si mesmos, porque o tempo de merecimento deles já acabou. Contudo, nós, aqui na terra, podemos ajudá-los pelas nossas orações, boas obras e, acima de tudo, pelo sacrifício da Divina Liturgia.

Embora a Igreja lembre as almas dos fiéis que partiram em suas orações e serviços diários, mesmo assim, como uma boa Mãe, ela ainda atribui dias especiais no Ano Litúrgico em que ela comemora e reza por eles. Estes dias são chamados de Dias das Almas ou dias de memória.
No Ano Litúrgico não apenas todo dia é dedicado para alguma festividade ou santo, mas também cada dia da semana tem seu próprio patrono.

 

Sábado de todas as almas

No sábado, Deus descansou após Ele ter criado o mundo e Jesus Cristo descansou no túmulo, depois de ter completado a salvação do mundo; consequentemente, o sábado se tornou o símbolo do eterno descanso e felicidade em Deus. Por esta razão, a Igreja dedica o sábado para todas as almas, que foram para a eternidade, mas que ainda não entraram no descaso eterno com os bem-aventurados nos céus.
Além de recordar os fiéis falecidos em todos os sábados, a Igreja reserva certos sábados no Ano Litúrgico em que os serviços são exclusivamente dedicados para recordação dos falecidos e para rezar por eles.

Estes sábados são chamados Sábados da Memória ou Sábados de Todas as Almas
São eles:

• Sábado da Dispensa da Carne.
• O segundo, o terceiro e o quarto sábado da Grande Quaresma.
• Sábado anterior ao Domingo do Pentecostes.
• O sábado anterior à solenidade de São Demétrio.

 

Sábado da Dispensa da Carne

O Domingo da Dispensa da Carne recorda o Último Julgamento. Por esta razão, no sábado precedente nós rezamos por todos os cristãos que adormeceram em tempos imemoriais, isso é, por todos aqueles que morreram ou pereceram em qualquer momento ou lugar, e por aqueles que talvez ninguém rezou, para que todos possam estar em pé, no dia do Último Julgamento, à mão direita do Juiz Eterno.

O segundo, o terceiro e o quarto sábado da Grande Quaresma.

A Grande Quaresma não é apenas um tempo para jejum e penitência, mas também um tempo para rezarmos pelas almas abandonadas. Para esse fim, três sábados durando o tempo de jejum são dedicados à memória dos que já partiram. Em épocas anteriores durante o Grande Jejum, a Divina Liturgia era celebrada somente no sábado e no domingo, enquanto que nos outros dias somente a Liturgia dos Dons Pressantificados era oferecida. Mas aquelas almas abandonadas não podem ser privadas de graças e méritos da Divina Liturgia, durante o Grande Jejum, por isso o sábado era designado especialmente para recordação dos mortos.

Sábado anterior ao Domingo do Pentecostes

O envio do Espírito Santo no quinquagésimo dia depois da ressureição foi o ato final da redenção da humanidade. Consequentemente, a Igreja deseja que as almas abandonadas tenham uma participação nas graças da redenção honrando suas memórias neste sábado. A Regra monástica dos estuditas, escrita por volta do ano 980 no Mosteiro de Estúdio, em Constantinopla, afirma que nos sábados antes do Domingo da Dispensa da Carne e do Domingo do Pentecostes todos os monges iam ao cemitério para rezar por seus irmãos falecidos.

O sábado anterior à solenidade de São Demétrio.

O eucológio de Pedro Mohyla fala da recordação das almas abandonadas no sábado anterior à solenidade de são Demétrio. Contudo, esta recordação não é um costume na Igreja Oriental nem de nosso povo ucraniano, mas veio até nós da Igreja de Moscou. O fundamento deste serviço memorial era a vitória do grande-príncipe Demétrio Ivanovych Donskoi, sobre o tártaro Mamai Khan em 8 de setembro de 1380 na Batalha de Kulikovo. Príncipe Demétrio Donskoi (1362-1389) após a vitória gloriosa ordenou uma recordação anual dos soldados que morreram naquela batalha. Na época eles começaram a recordar também aqueles que que não eram soldados, e o dia de celebrar as almas abandonadas se tornou o sábado anterior à solenidade de são Demétrio, talvez porque o próprio são Demétrio era um soldado.

 

Outros Dias de Memória entre os ucranianos

• O terceiro, o nono e o quadragésimo dia de falecimento.
• Os aniversários de morte e sepultamento.
• O dia seguinte à solenidade do santo padroeiro.
• Visitas ao cemitério durante o Tempo Pascal.
• Serviço Memorial nas sepulturas dos heróis.

O terceiro, o nono e o quadragésimo dia

Em nossa Igreja o antigo costume ainda prevalece de recordar os mortos no terceiro, nono e quadragésimo dia após sua morte. Estes dias de memória, chamados de O Terceiro Dia, O Nono Dia e o Quadragésimo Dia, datam dos tempos apostólicos. O Triódio da Quaresma no sinaxário (isto é, uma instrução espiritual) do Sábado da Dispensa da Carne dá a seguinte explanação por recordar os mortos nestes dias: “Nós recordamos os falecidos ao terceiro dia de sua partida, porque ao terceiro dia o semblante do falecido muda; ao nono dia porque todo o corpo se decompõe exceto o coração; e ao quadragésimo porque o coração se decompõe”.

O eucológio de Pedro Mohyla atribui um significado espiritual a estes dias de memória: “A recordação do terceiro dia significa que os falecidos acreditaram em Cristo, que ressuscitou dos mortos ao terceiro dia, também que os falecidos observaram as três virtudes teologais: fé, esperança e caridade em sua totalidade. Pela recordação do nono dia nós imploramos ao Senhor Deus por meio da intercessão dos coros de anjos celestes para dar repouso às almas e para dar a morada com os santos que era dos anjos decaídos. A recordação do quadragésimo dia nos lembra dos quarenta dias de jejum de Cristo, e os quarenta dias que Ele permaneceu na terra depois de Sua ressurreição, também lembra os quarenta dias de jejum de Moisés e Elias”.

As recordações acima mencionadas são também chamadas de Сорокоусти (Sorokousty). A palavra сорокоуст (sorokoust) literalmente significa: quarenta meses, сорок (sorok): quarenta; e уст (ust): mês; isto é, uma oração oferecida por quarenta meses ou por quarenta sacerdotes. Para honrar os membros falecidos das famílias dignamente, o costume desenvolvido foi de celebrar serviços por eles nas grandes catedrais ao terceiro, nono e quadragésimo dia após a morte, com quarenta sacerdotes participando na celebração. As pessoas mais ricas tinham esse serviço por Quarenta Meses oferecidos não apenas em quarenta igrejas ao mesmo tempo, mas também ao longo de quarenta dias, de modo que ao total, 1.600 celebrações eram feitas. Durante o serviço de Sorokousty, os dípticos eram lidos, isto é, a lista dos nomes dos falecidos. Hoje nós consideramos este serviço Sorokousty com orações especiais simples oferecidas pelos falecidos durante o Grande Jejum.

Em tempos passados era costumeiro entre nosso povo ucraniano colocar uma tigela de kutiá no tетрапод (tetrapod), palavra ucraniana derivada da palavra grega τετράπους (tetrapous) tetra: quatro; e pous: pernas; durante o serviço do Парастас (Parastás) ou da Панахида (Panakhyda). Kutiá é um trigo cozido misturado com mel. A ressurreição, assim como a semente semeado no chão parece morrer, ainda brota e produz frutos. A doçura do mel simboliza alegria eterna e felicidade nos céus. Três pães juntamente com o kutiá colocados no tetrápode, significam uma oferenda, um sacrifício pelos falecidos. Esta prática foi aprovada e recomendada pelo Sínodo de Lviv (1891)[1].

Os aniversários de morte e sepultamento

Outra manifestação de amor por aqueles que já partiram para a eternidade são as orações oferecidas nos aniversários de morte ou sepultamento. Este é um costume cristão digno de louvor – ter uma Divina Liturgia, Parástase ou Panaquida, celebrada nestes aniversários. Desta maneira nós demonstramos nosso amor e nossa gratidão aos entes queridos que partiram.

O dia seguinte à solenidade do santo padroeiro

            O Sínodo de Lviv nata que é um costume em nossa Igreja no dia seguinte a solenidade do santo padroeiro celebrar uma Divina Liturgia e o serviço pelos mortos. Se a Divina Liturgia pelos mortos não pode ser feita neste dia, então a celebração deve ser transferida para o dia mais próximo[2].

Visitas ao cemitério durante o Tempo Pascal

Nosso povo tem um belo costume de ir em procissão ao cemitério no segundo ou terceiro domingo durando o Tempo Pascal, ou no Domingo de São Tomé, deixando pães nas sepulturas, e celebrando o serviço da Panaquida. Esta prática simboliza o desejo de viver para compartilhar a alegria da Ressurreição de Cristo com os entes queridos que partiram.

Serviço Memorial nas sepulturas dos heróis

Outro costume desenvolvido recentemente na parte ocidental da Ucrânia, é o que segue em procissão no Domingo do Pentecostes até as sepulturas daqueles que entregaram suas vidas por seu país, onde celebram o serviço da Panaquida pelo repouso de suas almas.

 

[1] Título XII, 1, p. 2.

[2] Título XII, 1.

Fonte: KATRIY, Yulian Yakiv. Conheça o seu rito: o ano litúrgico da Igreja Greco-Católica Ucraniana. Roma: PP. Basiliani, 1982, pp. 50-54.

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Obs: Apesar de não destacado na obra de Katriy, aqui no Brasil a comunidade greco-católica ucraniana também celebra a memória dos mortos e de modo especial faz a visita aos cemitérios no Domingo de São Tomé – primeiro domingo depois da Páscoa.

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