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12 de novembro de 2020
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Solenidade do Santo Hieromártir Josafat – 12 de novembro

Hoje celebramos o dia do Santo Hieromártir Josafat Kuntsevytch, que foi monge da Ordem de São Basílio Magno, reformador da mesma e bispo, um santo de origem ucraniana.

Mas primeiro, você sabe o que é um hieromártir? Vamos explicar: Um mártir foi alguém que sofreu perseguição, foi torturado, chegando à morte, por não renunciar à fé cristã e seus princípios. Um hieromártir é um mártir que faleceu na condição de diácono, padre ou bispo – como no caso de São Josafat.

Ainda quando menino, no fim do século XVI, Josafat Kuntsevytch observava um crucifixo. Foi ali que uma centelha de luz saiu do crucifixo e foi parar no inocente e jovem coração de Josafat. Essa centelha  transformou-se em um grande fogo de amor a Deus e ao próximo. Ele seguia um caminho de santidade. Esse caminho levou-o a entrar no mosteiro da Ordem de São Basílio Magno, em Vilnius.

Amava a Divina Liturgia e através dela, sempre procurou a verdade e a glória de Deus. Também demonstrava grande amor à oração, meditação, jejum, às vezes passava a noite em adoração aos pés do Cristo Eucarístico.

Como Padre e depois como Bispo, Josafat se preocupava com a salvação das almas, zelava pelo seu amor a Deus e ao próximo. Era admirado por todos, seus amigos, coirmãos, familiares e até por seus inimigos. Quando Josafat pregava, a Igreja estava sempre cheia. Passava várias horas no confessionário.  Com suas palavras, convertia corações endurecidos.

Josafat também deixou seu exemplo de apostolado.  Ele praticava o que pregava, colocava a Palavra de Deus em prática. Ele acolhia todas as pessoas, independente da sua condição material ou cultural, não fazia distinção de ninguém, inclusive seus inimigos – perdoava-os e rezava por eles. Josafat era chamado de “ladrão de almas”.

São Josafat foi grande defensor da União de Brest-Litovski, de 1596. Todo seu empenho pastoral tinha como objetivo a união da Igreja de Kiev (ucraniana) em torno do Papa, o Vigário de Cristo na terra, para que houvesse uma só Igreja, como originalmente.  Foi acusado de ser traidor da grande tradição da Igreja Ucraniana, de latinizar o rito oriental, por defender a união com Roma. Consciente de ameaças de morte, ele foi ao encontro do seu martírio e sofrimento pela santa fé.

No dia 12 de novembro de 1623, após rezar as matinas, recebeu um golpe de marreta na cabeça, e em seguida um golpe de machado. Foi arrastado para fora dos aposentos e recebeu tiros, facadas e pauladas. Seu corpo ficou irreconhecível. A multidão de pessoas que gritavam de ódio contra o santo, arrastaram-no pelas ruas da cidade, amarraram seu corpo em pedras e jogaram-o no rio. O corpo de São Josafat foi encontrado 5 dias depois, recebeu todas as homenagens, levado em procissões, e sepultado apenas “um ano e meio depois da sua morte. Todo este tempo o corpo permaneceu intacto, sem sinais de deteriorização, rosto sereno, e o sangue vertendo aos pouquinhos de suas feridas. Suas relíquias estão conservadas na Basílica de São Pedro, em Roma. São Josafat é o primeiro santo ucraniano que foi canonizado pela Igreja Católica.”[1]

Muitos milagres foram atribuídos a São Josafat logo após o seu martírio. Um deles foi a conversão do bispo ortodoxo, Meletius Smotrytsky, responsável pela perseguição e morte de São Josafat.

Que a exemplo deste grande santo ucraniano, possamos suportar as adversidades, perseguições e sofrimentos em defesa da verdade e da fé. São Josafat, no fim do século XVI e início do século XVII deu testemunho do que tanto nos pede hoje o Papa Francisco: o respeito e amor por aqueles que são diferentes de nós, uma cultura do diálogo e do encontro.

São Josafat, mártir pela união da fé e das Igrejas

Cremos na Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica, fundada por Jesus Cristo, o filho de Deus. Então, pela união de quais Igrejas São Josafat lutou?

A Igreja Católica nasce na ocasião de Pentecostes, 50 dias depois da Ressurreição quando Jesus já no céu envia aos apóstolos o Espírito Santo, e a partir dai eles saem anunciar o evangelho e fundam as primeiras comunidades cristãs.

Os primeiros grandes núcleos cristãos fora da terra santa formaram-se nos arredores das cidades de Alexandria (norte da África) e de Antioquia na Ásia Menor, de onde surgem uma grande diversidade de tradições litúrgicas. A partir do século IV começa o processo de unificação das tradições litúrgicas em torno destes grandes centros da Antiguidade. Esse processo dá origem ao que chamamos de “ritos” da Igreja, ou seja, formas próprias de expressão da fé católica. A partir de Alexandria e Antioquia surgiram uma diversidade de ritos que deram origem às Igrejas Orientais. “Entende-se por Igrejas Orientais as Igrejas cristãs que se desenvolveram no antigo Império Romano do Oriente ou que originaram-se como frutos da ação missionária de cristãos procedentes do Império do Oriente, como é o caso da nações eslavas”[2] – a nossa Ucrânia.

Até o século XI, só existia uma Igreja – fundada por Cristo –  dividida em ritos de tradição oriental e ocidental. Em razão de conflitos dogmáticos, culturais e outras questões internas, no ano de 1054 aconteceu o Cisma do Oriente. O que significou esse Cisma? Algumas Igrejas de rito oriental separaram-se de Roma e deram origem ao que conhecemos como Igreja Ortodoxa. Ou seja, continuaram a utilizar o rito oriental em suas celebrações, entretanto não mais considerando o Papa como seu líder, representante da Igreja de Cristo na terra.

A Ucrânia foi batizada em 988, a partir da Igreja (rito) de Constantinopla. Por isso, herdou a tradição oriental grega. Em infeliz ocasião do Cisma de 1054, parte desta Igreja permaneceu fiel à Roma, enquanto que outra parte tornou-se Ortodoxa. Foram séculos de sofrimento e perseguição da Igreja Ortodoxa contra os cristãos orientais que permanceram fiéis à Roma.

Em ocasião do quarto centenário da União de Brest-Litovski, a partir do tempo da divisão que feriu a unidade entre o Ocidente e o Oriente bizantino, foram frequentes e intensos os esforços para reconstituir a comunhão plena, como o Concílio de Lião, em 1274, e sobretudo o Concílio de Florença, em 1439, quando foram assinados protocolos de união com as Igrejas Orientais. Infelizmente, várias causas impediram que as potencialidades contidas nesses acordos dessem o fruto esperado.[3]

No Concílio de Florença ou Ferrara (1438-1445), o Metropolita Isidoro tentou unificar os segmentos orientais e latinos. Isso, juntamente com os bispos ortodoxos gregos. Mais tarde, tudo isso foi rejeitado pelos gregos e o Metropolita de Kyiv, Isidoro, foi preso e torturado. Depois ele conseguiu escapar e fugir pra Roma. Após esse concílio, os gregos e russos ortodoxos tornaram-se radicais contra Roma e sua influência.

Em 1588, foi criado o Patriarcado de Moscou e a partir de Moscou considerava-se até 6 de janeiro de 2019 que a Ucrânia era do domínio dos ortodoxos de Moscou. Contra isso, o Metropolita de Kyiv e bispos da Ucrânia e Belarus uniram-se oficialmente com Roma em 1596.

Foram séculos de luta e dificuldade para enfim no ano de 1596, acontecer a União de Brest-Litovsk, a partir da qual a Igreja greco-católica ucraniana tornou-se Igreja particular, sui iuris, dentro da Igreja Católica. Lutou pelo seu direito à existência e à livre profissão de fé em união com Roma, em territórios de tradição oriental e conseguiu a liberdade, sob sangue de mártires, entre eles, São Josafat.

Nos Bispos que promoveram a união e na sua Igreja permanecia muito viva a consciência do estreito vínculo originário com os seus irmãos ortodoxos, além da consciência plena da identidade oriental do seu Metropolita, que devia ser salvaguardada também depois da união. Na história da Igreja católica é de grande valor o facto que esse justo desejo tenha sido respeitado e que o ato de união não tenha significado a passagem para a tradição latina, tal como alguns pensavam devesse ocorrer: a Igreja Greco-Católica Ucraniana vê “reconhecido o direito de ser governada por uma hierarquia própria, com uma específica disciplina, e de manter os patrimónios litúrgico e espiritual orientais”.[4]

Após a união, a Igreja greco-católica ucraniana viveu um período de florescimento das estruturas eclesiásticas, com reflexos benéficos sobre a vida religiosa, sobre a formação do clero e sobre o empenho espiritual dos fiéis. Grande importância foi atribuída, com notável clarividência, à educação. Com a contribuição preciosa da Ordem basiliana e de outras Congregações religiosas, incremento admirável foi dado ao estudo das disciplinas sagradas e da cultura nacional. No século actual, uma figura de extraordinário prestígio foi, neste sentido e no testemunho do sofrimento suportado por amor a Cristo, o Metropolita André Szeptyckyj que, à preparação e ao primor espiritual da pessoa, soube unir excelentes dotes de organizador, fundando escolas e academias, sustentando os estudos teológicos e as ciências humanas, a imprensa, a arte sacra e a conservação das memórias. Entretanto, tanta vitalidade eclesial foi sempre acompanhada pelo drama da incompreensão e oposição. Disto foi vítima ilustre o Arcebispo de Polock e Vitebsk, Josafat Kuncevyc, cujo martírio foi coroado com a imarcescível coroa da glória eterna. Agora o seu corpo repousa na Basílica Vaticana, onde continuamente recebe a homenagem comovida e grata de toda a catolicidade. [5]

A fidelidade às antigas tradições orientais é um dos meios à disposição das Igrejas Orientais católicas, para promover a unidade dos cristãos. O Decreto conciliar Unitatis redintegratio é muito explícito quando declara: «Conhecer, venerar, conservar e fomentar o riquíssimo património litúrgico e espiritual dos orientais é da máxima importância para guardar fielmente a plenitude da tradição cristã e realizar a reconciliação dos cristãos orientais e ocidentais».[6]

Referências:

JOÃO PAULO II, Papa. Carta apostólica Aproxima-se (por ocasião do quarto centenário
da União de Brest). Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, 1995.

ZALUSKI, Tarcísio. São Josafat Mártir. Prudentópolis: Edições Basilianas, 2017.

KATRIY, Yulian Yakiv. Conheça o seu rito: o ano litúrgico da Igreja Greco-Católica Ucraniana. Roma: PP. Basiliani, 1982.

SCHILLER, Soter. O Sacrifício de Louvor em torno da Divina Liturgia de São João Crsisóstomo. Prudentópolis: Edições Basilianas, 2018.

 

 

[1] ZALUSKI, 2017, p. 24.

[2] SCHILLER, 2018, p. 28.

[3] JOÃO PAULO II, 1995, nº 2.

[4] Idem, nº 2.

[5] Idem, nº 3.

[6][6] Idem, nº 12.

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